terça-feira, 1 de novembro de 2011

7 - Amaraji e Escada Disputando a Usina Bonfim em 1908

O distrito de Amaraji, que até 1891 pertencia ao município de Escada, naquele ano, foi desmembrado e tornou-se autônomo. Deste desmembramento, resultou ficar o engenho Aurora pertencendo ao novo município e o engenho Bonfim, continuar parte do território de Escada. A ilha em que se encontra a usina União Indústria, denominada de ilha de Primavera, sempre fez parte do engenho Aurora e, por conseguinte, do município de Amaraji.
Até a edificação da usina, aquela ilha servia com “solta para pastagem do gado do engenho Aurora”. Em 1904, o Decreto assinado Pelo bispo diocesano Dom Luiz Raimundo da Silva Brito, criando a freguesia de Amaraji, determinara que a nova paróquia “tivesse os mesmo limites” do município criado em 1891. Naquela época, os habitantes da ilha eram eclesiasticamente sujeitos à freguesia de São José do Amaraji, além de serem eleitores da comarca de Amaraji e não a de Escada.
Entre 1894 e 1995, o major da guarda nacional, Manoel Antônio dos Santos Dias, proprietário da usina Santa Filonila no engenho Jundiá em Escada, edificou, naquela ilha, a usina União e Indústria. Primeiramente, ela recebeu o nome de Santa Filonila, depois Bom Fim, Santos Dias e por fim União e Indústria. A fábrica foi incrementada com a instalação do maquinário trazido da antiga usina Santa Filonila, também conhecida por usina Jundiá, que havia sido desativada. Sua primeira moagem foi em 1895.
Em 1908, surge forte animosidade entre os chefes políticos dos dois municípios. De um lado, o coronel Liberato José Marques, prefeito de Amaraji, e do outro, o coronel Manoel Antônio dos Santos Dias, prefeito de Escada e proprietário da usina União e Indústria. O coronel Santos Dias, que desfrutava de grande prestígio junto a Assembléia Legislativa do Estado e, sendo compadre e amigo do governador Herculano Bandeira de Melo, fez valer sua amizade perante àquelas autoridades, conseguindo passar para Escada, a vila de Primavera e a usina União e Indústria.  Em 1913, no governo de Estácio de Albuquerque Coimbra, reparou em parte, essa injustiça, com a volta da vila de Primavera para Amaraji.
No início do século passado, Amaraji era um município de grande extensão territorial. Sua área contava com o distrito sede, a vila de Primavera com o povoado de Pedra Branca, a vila de Cortês, o distrito de Aripibu e o povoado de Demarcação.
No município existiam cinco usinas. Bamburral, fundada em 1889, pelo coronel José Pereira de Araújo; usina Bosque, fundada no final da década de 1890 por João Manuel dos Santos Pontual e seu filho; usina Cabeça de Negro, também fundada em 1887 por João Manuel dos Santos Pontual; usina Aripibu, fundada por Leocádio Alves Pontual em 1888 e a usina Pedroza, fundada em 1891, por três genros e um filho do coronel Manoel Gomes da Cunha Pedroza, o barão de Bonito.
Nos anos de 1949 e 1950, o deputado Luiz Magalhães Melo apresentou, na Assembléia Legislativa do Estado, um projeto reivindicando a ilha de Primavera para Amaraji. O art. Nº 2 do projeto propunha que o município de Amaraji convidasse o de Escada, para que, mediante acordo direto, fosse apresentada uma solução definitiva para o impasse territorial, tomando por base os limites fixados em 1891. Havendo recusa, ou não sendo possível o acordo, Amaraji pleitearia seu direito perante o Poder Judiciário.
Além disso, o projeto apresentou, entre outras, as alegações que a usina ficava mais próximo de Amaraji, com a qual se achava em permanente comunicação por meio de rede telefônica e estrada de ferro próprias.
O município, além da injustiça sofrida em 1908, não mais possuía as usinas Bamburral, Bosque e Cabeça de Negro que haviam sido desativadas, Aripibu anexada ao município de Ribeirão, quando da criação do município, ficando apenas com a usina Pedroza.
Ressaltava ainda que os encargos de Amaraji comparados aos de Escada eram bem mais pesados. Amaraji, isolada, quase sem via de comunicação com a capital e municípios vizinhos, tinha a seu cargo duas vilas importantes, Cortês e Caracituba, para cuidar. Escada possuía cinco usinas: Timbó-Assu, Massauassu, Mameluco ou Barão de Suassuna, Sibéria e União e Indústria, além de uma grande fábrica de tecidos, a Pirapama, que valia a própria ressurreição da cidade, sem contar que não possuía nenhuma vila para cuidar. Os projetos de nº 462 de 1949 e 113 de 1950 não “vingaram” e os limites continuaram os mesmos.
Na década de 1920, o coronel Liberato Marques construiu a usina que levou o seu nome, mas esta, só sobreviveu duas moagens. Em 1953, Cortês emancipou-se de Amaraji e a usina Pedroza passou a integrar a área territorial do novo município.
Com tantas perdas, dá até pra refletir sobre a imprecação do “frei missionário” lá na plataforma da estação do trem de Amaraji no começo do século passado.
De qualquer forma, foram-se as usinas, mas ficaram os
"Canaviais qual fita que te encerra
São as molduras que vem destacar
Tua beleza oh! Querida terra
Seja o sol seja luz prata do luar."

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